A professora de EMRC, professora Isabel Mesquita, animou a vitrine da BE com objectos utilizados na celebração da Páscoa cristã.
quinta-feira, 28 de março de 2013
quinta-feira, 21 de março de 2013
Dia Mundial da Poesia
O Portugal Futuro
O Portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
essa é a forma do meu país
e chamem elas o que chamarem
portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o Portugal futuro
Ruy Belo
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Poesia
quinta-feira, 14 de março de 2013
segunda-feira, 11 de março de 2013
O prazer da leitura
Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para
mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez
porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie – nem
sequer mental ou de sonho -, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim
cria ritmos verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página
de Fialho, tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha vida em
todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer inatingível
que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria perfeição de
engenharia sintáctica, me faz tremer como um ramo ao vento, num delírio passivo
de coisa movida.
Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em
que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo
sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam
festas, criança menina ao colo delas. São frases sem sentido, decorrendo
mórbidas, numa fluidez de água sentida, esquecer-se de ribeiro em que as ondas
se misturam e indefinem, tornando-se sempre outras, sucedendo a si mesmas.
Assim as ideias, as imagens, trémulas de expressão, passam por mim em cortejos
sonoros de sedas esbatidas, onde um luar de ideia bruxuleia, malhado e confuso.
Não choro por nada
que a vida traga ou leve. Há porém páginas de prosa que me têm feito chorar.
Lembro-me, como do que estou vendo, da noite em que, ainda criança, li pela
primeira vez numa selecta o passo célebre de Vieira sobre o rei Salomão.
«Fabricou Salomão um palácio…» E fui lendo, até ao fim, trémulo, confuso:
depois rompi em lágrimas, felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar,
como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquele movimento hierático da
nossa clara língua majestosa, aquele exprimir das ideias nas palavras
inevitáveis, correr de água porque há declive, aquele assombro vocálico em que
os sons são cores ideais – tudo isso me toldou de instinto como uma grande
emoção política. E, disse, chorei: hoje, relembrando, ainda choro. Não é – não
– a saudade da infância de que não tenho saudades: é a saudade da emoção
daquele momento, a mágoa de não poder já ler pela primeira vez aquela grande
certeza sinfónica.
Fernando Pessoa –
Bernardo Soares - Livro do Desassossego
ODE AOS LIVROS QUE NÃO POSSO COMPRAR
Ode aos livros que não posso comprar
Hoje, fiz uma lista de livros,
e não tenho dinheiro para os poder comprar.
É ridículo chorar falta de dinheiro
para comprar livros,
quando a tantos ele falta para não morrerem de fome.
Mas também é certo que eu vivo ainda pior
do que a minha vida difícil,
para comprar alguns livros
__ sem eles, também eu morreria de fome,
porque o excesso de dificuldades na vida,
a conta, afinal certa, de traições e portas que se fecham,
os lamentos que ouço, os jornais que leio,
tudo isso eu tenho de ligar a mim profundamente,
através de quanto sentiram,, ou sós, ou mal acompanhados,
alguns outros que, se lhes falasse,
destruiriam sem piedade, às vezes só com o rosto,
quanta humanidade eu vou pacientemente juntando,
para que se não perca nas curvas da vida,
onde é tão fácil perdê-la de vista, se a curva é mais rápida.
Não posso nem sei esquecer-me de que se morre de fome,
nem de que, em breve, se morrerá de outra fome maior,
do tamanho das esperanças que ofereço ao apagar-me,
ao atribuir-me um sentido, uma ausência de mim,
capaz de permitir a unidade que uma presença destrói.
Por isso, preciso de comprar alguns livros,
uns que ninguém lê, outros que eu próprio mal lerei,
para, quando se me fechar uma porta, abrir um deles,
folheá-lo pensativo, arrumá-lo como inútil,
e sair de casa, contando os tostões que me restam,
a ver se chegam para o carro eléctrico,
até outra porta.
1919 / 1978 Jorge de Sena – 40 Anos de Servidão
Hoje, fiz uma lista de livros,
e não tenho dinheiro para os poder comprar.
É ridículo chorar falta de dinheiro
para comprar livros,
quando a tantos ele falta para não morrerem de fome.
Mas também é certo que eu vivo ainda pior
do que a minha vida difícil,
para comprar alguns livros
__ sem eles, também eu morreria de fome,
porque o excesso de dificuldades na vida,
a conta, afinal certa, de traições e portas que se fecham,
os lamentos que ouço, os jornais que leio,
tudo isso eu tenho de ligar a mim profundamente,
através de quanto sentiram,, ou sós, ou mal acompanhados,
alguns outros que, se lhes falasse,
destruiriam sem piedade, às vezes só com o rosto,
quanta humanidade eu vou pacientemente juntando,
para que se não perca nas curvas da vida,
onde é tão fácil perdê-la de vista, se a curva é mais rápida.
Não posso nem sei esquecer-me de que se morre de fome,
nem de que, em breve, se morrerá de outra fome maior,
do tamanho das esperanças que ofereço ao apagar-me,
ao atribuir-me um sentido, uma ausência de mim,
capaz de permitir a unidade que uma presença destrói.
Por isso, preciso de comprar alguns livros,
uns que ninguém lê, outros que eu próprio mal lerei,
para, quando se me fechar uma porta, abrir um deles,
folheá-lo pensativo, arrumá-lo como inútil,
e sair de casa, contando os tostões que me restam,
a ver se chegam para o carro eléctrico,
até outra porta.
1919 / 1978 Jorge de Sena – 40 Anos de Servidão
sexta-feira, 8 de março de 2013
Dia da Mulher
O que Sempre Soube das Mulheres
Tratam-nos mal, mas querem que as tratemos bem. Apaixonam-se por serial-killers e depois queixam-se de que nem um postalinho. Escrevem que se desunham. Fingem acreditar nas nossas mentiras desde que tenhamos graça a pregá-las. Aceitam-nos e toleram-nos porque se acham superiores. São superiores. Não têm o gene da violência, embora seja melhor não as provocarmos. Perdoam facilmente, mas nunca esquecem. Bebem cicuta ao pequeno-almoço e destilam mel ao jantar. Têm uma capacidade de entrega que até dói. São óptimas mães até que os filhos fazem 10 anos, depois perdem o norte. Pelam-se por jogos eróticos, mas com o sexo já depende. Têm dias. Têm noites. Conseguem ser tão calculistas e maldosas como qualquer homem, só que com muito mais nível. Inventaram o telemóvel ao volante. São corajosas e quando se lhes mete uma coisa na cabeça levam tudo à frente. Fazem-se de parvas porque o seguro morreu de velho e estão muito escaldadas. Fazem-se de inocentes e (milagre!) por esse acto de vontade tornam-semesmo inocentes. Nunca perdem a capacidade de se deslumbrarem. Riem quando estão tristes, choram quando estão felizes. Não compreendem nada. Compreendem tudo. Sabem que o corpo é passageiro. Sabem que na viagem há que tratar bem o passageiro e que o amor é um bom fio condutor. Não são de confiança, mas até amais infiel das mulheres é mais leal que o mais fiel dos homens. São tramadas. Comem-nos as papas na cabeça,mas depois levam-nos a colher à boca. A única coisa em nós que é para elas um mistério é a jantarada de amigos – elas quando jogam é para ganhar. E é tudo. Ah, não, há ainda mais uma coisa. Acreditam no Amor com A grande mas, para nossa sorte, contentam-se com pouco.
Rui Zink, in "Jornal Metro"
quinta-feira, 7 de março de 2013
quarta-feira, 6 de março de 2013
segunda-feira, 4 de março de 2013
Vitrina Animada
Chegou a vez da BE, através da vitrine, mostrar uma coleção de carros: Ferraris, carros de Formula 1 e de Ralis , Citroen DS, 2CV ou Carochas, entre outros, estarão em exposição até o dia 15 de Março.
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